JOÃO BARRENTO VENCE O PRÉMIO CAMÕES 2023
João Barrento, ensaísta e tradutor, João Barrento publicou diversos livros de ensaio, crítica literária e crónica, e traduziu literatura de língua alemã, do século XVII à actualidade (Goethe, Benjamin, Celan, entre outros). Tem sido distinguido com inúmeros prémios, de que é exemplo o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, 2012.
Este ano (2023) João barrento publicou na Companhia das Ilhas APARAS DOS DIAS. A ESCRITA NA PONTA DO LÁPIS.
«Este é o meu livro de leitura, de leituras, de colheitas, de respostas aos apelos de outros livros e a chamadas que sempre foram chegando, e continuam a chegar. Legere = ler, colher, apanhar…. o que foi caindo dia a dia no papel, ainda na máquina de escrever, no computador, nos cadernos das intervenções públicas… Dessa massa se faz o pão deste livro múltiplo. O seu ritmo é o dos dias: desiguais e acidentados, com altos e baixos, estradas longas e pequenos atalhos e desvios. Breves iluminações e troços de respiração mais ampla. Espelho de interesses, de obsessões, de paixões que os anos só vêm confirmar e consolidar…» [João Barrento]
A RODA DA LEITURA
«Por vezes sonho o sonho do fim da avalancha de livros que semana a semana me submerge. Sonho com o dia em que pudesse ficar apenas com uma ou duas dúzias de livros, não para me retirar para a conhecida ilha deserta, mas para poder dizer, como o Poeta (aquele que assim trato é Hölderlin): «uma vez / como os deuses terei vivido. E mais não é preciso». E afinal, ele aqui está, esse leitor feliz e intenso, não o leitor interactivo de hoje, mas o iterativo, moderadamente assediado pela letra impressa na roda de leitura… O eterno retorno dos livros que vale a pena ler. A biblioteca giratória e eternamente igual a si mesma. O panteão dos melhores, com a garantia de que um livro seria lido, relido, absorvido e pensado até à exaustão (coisa que raramente se faz). Exaustão do seu manancial de beleza e pensamento, exaustão de mente e corpo de um leitor-oleiro que passa o tempo a carregar no pedal que faz avançar a roda…»