Quem está aí?
Cecília Ferreira, Elisabete Marques, Henrique Fialho e Manuel Portela
Quem está aí? O título dá logo a pista. Quem é alguém e não se sabe quem é? Se o ponto de partida é a invisibilidade, esse alguém é o ser invisível. Será uma ameaça? E que nos diz que não é um alguém que o medo cria? O medo é um monstro que tem duas existências, uma nas nossas cabeças e outra que é sistémica. O medo é uma das armas mais poderosas que a demagogia, enquanto sistema antidemocrático de condução das sociedades, mais usa. O medo é a arma preferida da demagogia populista quando o que estranho, o outro, nos é apresentado como o culpado de tudo. Para inculcar socialmente o medo, os poderes, o poder confluente — em última instância, como diria o camarada Althusser — do poder governativo e do sistema mediático praticam a xenofobia e o racismo mesmo que disfarçados de exercício preventivo, de modo de eliminar a criminalidade e a violência. Vimo-lo há pouco entre nós com o lamentável episódio da rua do Benformoso.
[Fernando Mora Ramos]
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Excerto
HOMEM
Quem está aí? Quem está aí?
Volto a perguntar: quem está aí?
Para. Para já. Estanca. Congela. Imobiliza. Imobiliza. Já. Imediatamente. Último aviso. A ordem é clara: para. Para imediatamente. Não ouves? Vou disparar. Vou disparar. Vou disparar aos 3. Um, dois, três. (dispara. Sai da torre e vem para o exterior, surgindo no meio da neblina provocada pelo tiro)
São exercícios necessários. Repito-os metodicamente todos os dias, várias vezes. Não têm conta. São treinos essenciais para quem tem de estar pronto.
Vai aparecer outra vez, embora nunca o tenha visto. Aparecerá. Entre as sombras. Mais uma sombra a somar às outras. Mais um fantasma para me atormentar, para dar cabo da minha cabeça.
Nota de leitura