Telas & Cores

Álamo Oliveira

A mostra que aqui se deixa vai de António Dacosta a Rui Melo, passando por outros nomes açorianos ou não, todos eles diferentes na sua relação com as telas e as cores e todos desenvolvendo um discurso plástico que fascina e conduz ao entendimento do Belo com a simplicidade das leituras simples. Na verdade, é o uso diferenciado de uma gramática policromática, que se distinguirá Rui Melo, em contenção continuada das cores, de Manuel Policarpo (Vasco Pereira da Costa), este pela sua exuberante expressão formal. Como também difere o quase hiper-realismo de Deodato Sousa do incansável domador da matéria (suportes de madeira, tela, pele, etc., aos conseguimentos magmáticos de inspiração vulcânica) José Nuno da Câmara Pereira.

 

 

Excerto

DACOSTA POETA, DACOSTA PINTOR DACOSTA… (1914 — 1990)

A última imagem que guardo de António Dacosta tem colorações patéticas. Não por qualquer atitude menos serena que ele tenha tomado, mas por aquilo que sabia (que sabíamos: o próprio, o João Afonso e eu) que lhe ia acontecer. Depois de um almoço de ementa regional, na Quinta do Martelo (passe a publicidade), vimo-lo apanhar folhas de incenso, musgo das pedras, rebentos de fetos, esfregá-los cuidadosamente com os dedos e levá-los ao nariz. Falava de projectos, sugeria, comentava, ensinava não ensinando, mas o que dizia não tinha qualquer correspondência com os seus gestos. Porém, sem dons de adivinho, pressenti que ele sabia estar na ilha pela última vez e, não podendo ficar nela nem levá-la consigo, guardava, na boca, o seu sabor mais peculiar e, nas mãos, o cheiro do seu corpo. (…)

Nota de leitura

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-9007-26-0

Dimensões: 14×22cm

Nº páginas: 128

Ano: 2020| Novembro

Nº Edição: 214

Colecção: Obras de Álamo Oliveira # 011

Género: Ficção | Conto

PVP: 14€

Autor