O Lavrador da Boémia

Johannes von Saaz

Em O Lavrador da Boémia temos combate que identifica o amor perdido com tudo o que na natureza possa simbolizá-lo, as coisas boas, a Primavera e o Verão, as flores, tudo o que vive, a própria perfeição do corpo humano, os seus sentidos, a vista, o ouvido, o tacto, o cheiro e o paladar, tão perfeitos — como pode o Deus que tal criatura fez, o humano, ser o mesmo que inventou a figura da Morte como poder celeste instalado, fronteira obrigatória. Quem concebeu esta perfeição não poderá ser a mesma criatura que a impede de viver o que será o seu ciclo natural. É contra isso que o Lavrador guerreia e dirige as suas armas argumentativas.

O que Saaz realiza no Lavrador é, não só a denúncia de uma morte injusta, portanto, sem o fazer directamente, de um erro divino, mas também, pela qualidade da criação poética, fazer permanecer para além dos tempos uma notícia que ganha a dimensão perene de um texto clássico — a vida do texto ganha corpo, de facto, na tenção psíquica, real e não apenas retórica, de um confronto entre duas vozes cénicas, o Lavrador Saaz, e a Morte, instrumento de Deus munido de ciência teológica.

 

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Excerto

O LAVRADOR

Destruidora encarniçada dos povos, vós que desprezais tudo o que vive, assassina de todos os homens, vós Morte, maldita sejais. Meus Deus, que o Deus vosso criador vos odeie, que a má sorte vos assombre, que sejais amaldiçoada para todo o sempre. Que o medo, o infortúnio, as lamentações vos persigam para onde quer que fordes. Que o céu, a terra, o Sol, a Lua, as estrelas, o mar, os lagos, as montanhas e os prados, os vales, os abismos do Inferno, tudo o que vive, tudo o que se mexe vos seja hostil, adverso, vos maldiga para sempre. Que sejais para sempre desterrado, ó mais grave dos Deuses, por todos os homens e todas as criaturas. Demónio obsceno! Que a vossa má memória viva e perdure até ao fim dos tempos. Que a verdade da minha queixa seja gritada por mim e por toda a humanidade contorcendo as mãos, que seja gritada a minha acusação.

A MORTE
Ouvi, ouvi as novas maravilhas. Estas acusações cruéis donde vêm? Não o sabemos ao certo. Mas ameaças, acusações, mãos que se contorcem, nunca nos fizeram dano. Todavia, meu filho, quem quer que sejas, mostra-te e diz-nos qual é o agravo que te fizemos, porque nos tratas de forma tão inconveniente? Não estamos habituados a isto, apesar de já termos empurrado para lá da borda do prado numerosos homens inteligentes, nobres, belos, poderosos, honestos. A viúva como o órfão, as nações como os povos, tiveram o seu quinhão de sofrimento. Tu, que pareces sério, vê-se que o infortúnio te oprime. Mas a tua queixa só no som tem rima. Se estás enraivecido, colérico, perturbado ou demente, detém-te, vai-te. Não penses que poderás enfraquecer o nosso poder magnífico e alto. No entanto, diz-nos o teu nome. Não fiques silencioso. Diz-nos em que te agravámos. Justos gostaríamos de ser a teus olhos pois justa é a nossa causa. Não sabemos do que malvadamente nos acusas

Nota de leitura

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-9007-36-9

Dimensões: 14x22cm

Nº páginas: 52

Ano: 2021| Abril

Edição: # 220

Género: Teatro

Colecção: azulcobalto | teatro | mundo # 007

PVP: 12 €

Autor