Com os Portugueses
Sarah Adamopoulos
Uma biografia literária de Portugal no pós-25 de Abril e do Portugal imortal que vive no coração dos portugueses.
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Excerto
Comunistas, ateus, artistas, e ainda por cima estrangeiros, a viver numa casa que era uma roda-viva de pessoas a entrar e a sair, homens perfumados, mulheres muito maquilhadas e cheias de colares, a fumar cigarros fininhos e brancos como os das mulheres da má vida, e aquelas crianças todas, ali sozinhas durante dias a fio, enquanto a nossa mãe andava sabia-se lá por onde e a fazer sabia Deus o quê. E o facto de termos sido amigos da puta do prédio tornava tudo pior. Éramos como pretos. Ou pior ainda, como pretos retornados, que era pelo menos tão mau como sermos comunistas e ateus, embora melhor do que sermos brancos tresmalhados do rebanho humano português, brancos filhos de gente estrangeira, comunista e ateia, judeus errantes vindos de pátrias distantes e de impérios há muito desaparecidos, não havia pior, pois os estrangeiros, ou estrangeirados, ou lá o que éramos, eram iguais a todos os que, não sendo portugueses, viviam em Portugal. E porquê? Porque não íamos nós mas era para a nossa terra?
Nota de leitura