A mulher que adorava os insectos e outros contos japoneses dos séculos XI e XII
Anónimo - Org: Joaquim M. Palma
No período Heian (794-1185) a literatura no Japão atingiu um extraordinário esplendor. E é neste período que nasce a colectânea Tsutsumi Chunagon Monogatari [Histórias do Conselheiro da Beira-Rio] ‒ dez pequenos contos e um texto sob a forma de fragmento pertencente àquele que seria o décimo primeiro conto.
Pelas suas características formais e estilísticas, poderão ser considerados os relatos breves ficcionais mais antigos da história literária da humanidade, centrados quase sempre em uma única situação ou numa só personagem.
Narrativas escritas numa prosa simples, descomprometida, onde pontuam breves poemas ‒ no formato tanka ‒ harmonicamente entretecidos com o corpo do texto. Testemunho de um viver aristocrático prestes a entrar em declínio, mas que, naqueles 300 anos dourados, conseguiu existir em sossego e concórdia, fazendo uso espontâneo de uma criatividade aplicada aos mais variados níveis do quotidiano, numa cidade que foi buscar o seu nome à paz e à tranquilidade.
Excerto
Em certo lugar morava uma mulher ainda jovem que adorava as borboletas. Ela era filha de um alto funcionário público que lhe dedicava cuidados extremados.
A mulher dizia a toda a gente que «as pessoas costumam falar demasiado sobre flores e borboletas, em vez de procurarem descobrir a verdadeira natureza das coisas e assim se tornarem sábias».
Ela tinha como passatempo coleccionar todo o tipo de insectos, qual deles o mais pavoroso, guardando-os em caixa e gaiolas para os ver crescer. Apreciava mais as lagartas pelo seu aspecto, que se lhe afigurava ser de grande distinção. Com o seu cabelo puxado para a nuca (coisa que não era bem vista socialmente), a mulher passava muito do seu tempo colocando as lagartas sobre as suas mãos e olhando embevecida para elas.
Nota de leitura

