Terra Inóspita
TS Eliot
Tradução e apresentação de Vergílio Alberto Vieira
Demanda histórica, linguística, e geracional, duma identidade poética que medeia as duas guerras mundiais, a obra de T.S. Eliot (1888-1965), e em particular The Waste Land (1922), pedra angular, e culminação geracional da poesia europeia contemporânea, mercê do engenho com que venceu limitações formais – assinaladas por Walter Benjamin na língua própria, e noutras – congregou fontes, simbologias e dispositivos fracturantes, pode (e deve) ainda hoje ser entendida como paradigma de estratégias únicas, expedientes cujo carácter filosófico-religioso (seu ethos) fizeram do poeta de Four Quartets (1943): verdadeiro portador de esperança duma humanidade, e condição humana, ciclicamente ameaçadas.
Excerto
Não fora Abril, dos meses, o mais severo
Ninguém se recordaria de ver lilases cobrir a terra morta
E desejar primaveras de chuva desenterrando
Resquícios de raízes secas.
O inverno, com efeito, albergou-nos, protegendo
O que, depois da neve, renascendo
Ganhou vida com mirrados tubérculos.
O verão apanhou-nos desprevenidos, à passagem por Starnbergersse.
Inesperado aguaceiro; abrigou-nos a colunata
Logo retomando, com sol, o caminho de Hofgarten.
E bebericámos café, e cavaqueámos um bom bocado.
Bin gar Keine Russin, stamm’aus Litauen, echt deutsch.
Quando crianças, visitas do arquiduque,
Meu primo levou-me a dar uma volta de trenó,
Que susto, o meu. Marie, alertou ele,
Marie, segura-te bem. E nunca mais parámos.
As montanhas têm isso, dão a sensação de sermos livres.
Eu passo a noite a ler, e viajo para o sul no inverno.
(…)
Nota de leitura

