Quarta-feira
Carlos Alberto Machado e Maria João Worm
Ela é a Maria.
Muitas vezes ela é a Maria. Quase sempre.
Ou Às Vezes — era como lhe chamava também a sua Mãe:
— Às vezes não és tu mesma, Maria!
A Maria, a Mãe e o cão Sai Já Daí vivem numa casa não na cidade mas fora da cidade, no cimo de um Monte Amarelo que às vezes muda de cor.
O Pai da Maria não vive em cima do Monte Amarelo porque numa Quarta-feira saiu e se perdeu da Maria, da Mãe da Maria e da Mãe-da-Mãe da Maria.
— É um homem perdido.
— Disse, exclamativa e com cara feia a Mãe-da-Mãe da Maria.
Era Quarta-feira.
E é por isso que desde essa Quarta-feira a Maria nunca sai de casa às Quartas-feiras.
Maria tem um Primo percebe de algumas coisas mas não de todas e faz milagres.
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Excerto
Então, fora desta estória,
ou mais tarde, ou depois,
que é parecido com
«Era uma vez…»
Foi numa Quarta-feira
que meteram o Sai Já Daqui
numa cova funda,
ele muito direitinho
e com a língua de fora, toda preta,
e depois deitaram para dentro da covinha
uma pasta branca tipo iogurte
e terra dos vasos
e os adultos subiram os olhos para o céu,
parece que ia chover.
Nota de leitura