Eu depois inventei o resto
Helder Moura Pereira
Helder Moura Pereira é um poeta que sabe aliar o rigor a uma enorme liberdade. Nos últimos livros, poder-se-á falar de um tom brincado, ancorado num coloquialismo, num certo tom de prosa, aspectos que acentuam, de outro modo, a sua riqueza especificamente poética.
Excerto
Havia quatro meninas
que tinham na garagem
uma mesa de ping-pong.
Quem lhes ensinou tudo
acerca do ping-pong
foi o motorista da casa,
que era muito simpático,
sentava-as ao colo
e fazia-lhes festinhas
Nota de leitura
Em dúzia e meia de breves poemas, num registo próximo da prosa e lindos de perder o fôlego, o poeta setubalense conta episódios da infância, revivendo jogos, amizades, segredos, traições, descobertas, recorrendo à fantasia e ao mistério para criar o maravilhoso que pode muito bem ser esse “resto” evocado no título.
[Adolfo Luxúria Canibal, Correio da Manhã/Domingo]