Reúno neste volume reflexões e intervenções dispersas sobre arte e artistas, textos que viram a luz do dia nos mais variados suportes e circunstâncias, no caso dos artistas portugueses quase sempre em ligação com exposições concretas. Arrisco uma escrita da palavra que reflecte ou espelha o outro com a sua escrita-outra, a da imagem, em obras de pintura, escultura, desenho, instalação, fotografia ou cinema. Sem mais pretensões que não sejam as de dar conta de diálogos do olhar e do pensamento com as obras de que falo, tentando fazê-las ecoar no espaço próprio da minha reflexão — e eventualmente no de quem me lê. Lendo assim a obra (como sugere Mark Rothko), talvez possamos iluminar o que nela eventualmente é mais obscuro, ou trazer para perto o que parece distante. [J.B.]

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Excerto

Não sei se o nosso tempo está preparado para assimilar plenamente este filme [Die andere Heimat. Chronik einer Sehnsucht, tradução possível: Outras Pátrias. Crónica de uma nostalgia], para lá da película de superfície de uma aura romântica ou do «pitoresco» de algumas cenas e ambientes. E quando digo «o nosso tempo» estou a pensar num tempo que deixou para trás a experiência do tempo que este filme veicula, de um tempo refém dos tempos sem memória que são os das TVs, dos ritmos desumanizados da competitividade selvagem, da intolerância e de vidas que se iludem com padrões de «qualidade» que lhes são impostos por interesses destruidores do equilíbrio planetário. Os aparelhos ideológicos mais activos hoje em dia, que se tornaram completamente abstractos e opacos, não estão interessados em avivar ou manter a consciência de um tempo com tempo, e os seus prolongamentos na vida. (…).

Nota de leitura