Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extra-Moral
Friedrich Nietzsche
Über Wahrheit und Lüge im außermoralischen Sinne
Tradução de Gilda Oswaldo Cruz
Prefácio de António Vieira
Raras vezes na literatura ocidental o pessimismo atingiu uma tal densidade. Em poucas páginas, exercendo uma crítica sistemática dos fundamentos da possibilidade de conhecer, Nietzsche instaura a dúvida sobre o acesso à verdade. A palavra, veículo celebrado do saber e do percurso para o atingir, seria antes como uma cortina de encobrimento, tecida sob a aspecto capcioso de metáforas. A realidade íntima das coisas esconder-se-ia na espessura mais sombria da floresta, como o licorne ante a fantasia dos sábios medievais.
«O que é então a verdade?» – pergunta Nietzsche: «Uma multidão de metáforas, metonímias e referências antropocentradas (…), quais moedas cuja efígie se apagou e, perdendo o seu estatuto monetário, não valem mais do que o seu peso em metal.»
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Excerto
O que é então a verdade? Um exército movediço de metáforas, metonímias e antropomorfismos, ou seja, uma soma de relações humanas que, poética e retoricamente realçadas, transmitidas e adornadas, depois de seu longo uso por um povo aparecem como firmes, canónicas e vinculativas: as verdades são ilusões, das quais foi esquecido que o são, metáforas gastas e tornadas sem força sensorial, quais moedas cuja efígie se apagou e que já só valem como metal, não podendo ser mais consideradas como moedas.
Nota de leitura