Puta de Filosofia

Carlos Alberto Machado

Romance político-policial, polvilhado por cenas eróticas, literárias e gastronómicas, com bastas incursões na infância do protagonista, Søren Constantius, filho de mãe boliviana e de pai dinamarquês, trinta e cinco anos, um metro e noventa e quatro, potencial filósofo, literato ocasional, cozinheiro e gastrónomo reconhecido, amante prolífico e agente de segunda classe da Brigada Judiciária.

Algures no Sul da Europa: com prostitutas especialistas em Sade, jornalistas de bandulho cocainómano, russos mafiosos e russos mortos, mulheres assassinadas, estudantes especialistas em expedientes mais ou menos filosóficos, sucateiros, detectives deficientes cardíacos, chefs de culinária popular, bêbados, boys, homens de mão, e um Primeiro-Ministro colérico e corrupto. Etc.

É o terceiro romance de Carlos Alberto Machado, depois de Hipopótamos em Delagoa Bay (2013) e O Mar de Ludovico (2017).

 

Excerto

Cães como sombras, esfaimados e sarnosos, uivam a sua fome junto ao corpo de um homem morto numa lixeira. O homem está de bruços, os braços em cristo, as pernas em posições inverosímeis, desarticuladas, partidas. O fato escuro está repleto de sangue seco e de pedaços do lixo por onde rebolou quando foi atirado. Dos ouvidos, escorre um líquido esbranquiçado e viscoso. Na testa, um orifício de bala. E muitos outros, por todo o peito. Tem os olhos abertos, mas é difícil saber se assim ficaram de dor ou de espanto, ou talvez de ambas as coisas.

Um enxame verde de varejeiras suga-lhe o sangue.

Nota de leitura

“POP E ESPIRITUOSO”

por Hugo Filipe Lopes

Søren, como todos os detectives noir, é um gajo amaldiçoado. A maldição dele é a puta da filosofia, que o impede de seguir o caminho da restante brigada judiciária, ou seja, o caminho de quem se encaixa. Por isso, em vez de ser o típico durão, ele é mais um desajustado. Isso passa desde o início na escrita sem espinhas mas também sem exageros de Carlos Alberto Machado, que no mesmo romance, viaja tanto pelo universo pulp, como pelo do espírito crítico face ao sistema. Aliás, o sistema é mesmo o principal suspeito neste policial existencial, e grande parte do livro é passado, via um Primeiro Ministro que só não é Sócrates porque não está lá o nome dele e um Presidente que só não é o Cavaco porque não está lá o nome dele, a desancar sem misericórdia no status quo. Pelo meio há cenas de acção que não se levam demasiado a sério, cenas de sexo que não caem no ridículo e um desfilar de influências filosóficas, conversa de macho sobre gajas boas e repastos de coelho ou marisco bem regado a vinho ora tinto ora branco que ajudam a tornar as personagens mais coesas e o livro mais fluído. No processo ainda há tempo para desancar nos policiais existenciais de fio e cordel como Dan Brown, que podia aprender muito com este “Puta da Filosofia” em vez de regurgitar bacoradas new-age para donas de casa frígidas e yuppies sem alma.

Algures entre o universo “Pop 1200” de Jim Thompson e uma “Crónica dos Bons Malandros” de Mário Zambujal, “Puta de filosofia” não será provavelmente o livro policial que vai agradar aos fãs do género por ser demasiado espirituoso e se calhar também não vai apanhar os fãs de literatura por ser demasiado pop, mas ficam ambos a perder. Porque este, é das melhores coisas que tem saído da pena de autores portugueses nos últimos tempos, mesmo que Carlos Alberto Machado esteja pelas ilhas, e não no continente, o que acaba por tornar a coisa ainda mais atraente.

Rua de Baixo

Março 27, 2018.

 

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-8828-41-5

Dimensões: 13×18cm

Nº páginas: 256

Ano: 2018 | Abril

Nº Edição: 131

Colecção: azulcobalto # 054

Género: Ficção | Romance

PVP: 15 €

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