António Vieira: VIAGEM PELO BRASIL [1999-2000]. DIÁRIO DE UM ESCRITOR PORTUGUÊS.
Boa tarde, António
Tenho estado a reler o seu livro das viagens pelo Brasil, com muito gosto. Faz-me sentir pena de não ter chegado a mergulhar nesse mundo, e agora constato que já é tarde. É verdade que tive vários convites para visitar o Brasil e nunca me senti tentada a fazê-lo, não percebo bem porquê – um certo desinteresse que se estendeu à América do Sul em geral, talvez pela violência estrutural dessas sociedades. (…)
Ainda bem que publicou as suas notas, teria sido uma pena não o ter feito. É um bonito livro de iniciação a um universo fascinante, revelando-nos, na sua escrita poética, aspectos tão diversos desse imenso país.
(…)
Helena Cabeçadas: antropóloga, escritora de literatura de viagens
Meu caro António,
Desejando que estejam bem de saúde e com ânimo, venho agradecer-lhe o exemplar de Viagem pelo Brasil [1999-2000], que teve a amabilidade de me enviar.
Em virtude de estar a trabalhar principalmente em casa, só indo ao escritório quando não posso evitar, só ontem recolhi o livro e, por essa razão, só hoje lho estou a agradecer. Irei lê-lo com a maior expectativa, se bem que já o folheei e vi que, para além de excelente aspecto gráfico (característica aliás dos livros que conheço desta editora), vem recheado das fotografias que o António já referira no seu anterior email, de resto, bem interessantes. Tenho dedicado algum tempo à leitura de literatura de viagens, pelo que antevejo que a deste seu (melhor diria, vosso) relato me proporcionará muito bons momentos.
José Manuel de Vasconcelos: poeta, crítico, tradutor
Caro António,
Recebi há uma semana o seu diário da viagem pelo Brasil. Folheei antes de agradecer, e não agradeci logo porque não mais larguei o livro, bela edição, sóbria, en el bosque, de uma elegância contida, da Companhia das Ilhas. Um texto ofegante, marcado pelo espanto, pelo desencontro e, paradoxalmente, por encontros jubilatórios. São farrapos de sentimentos, sensações, perplexidades, sonhos erótico-assustadores, comoções em que me revejo, e que o António, com a perseverança de um copista, regista até ao cansaço físico, algo de material que percorre o diário e se comunica ao leitor. Há, em contraponto, uma certa aisance da Gilda, que aproveita qualquer oportunidade para mergulhar em águas onde talvez reine o Caipora. Eu diria que o prefixo des resume o essencial dos nomes, substantivos ou adjectivos, aplicáveis a essa viagem um tanto inquietante (refiro-me sobretudo à de 1999): desencontros, sempre, mas também desencanto, desfasamento, desacerto, discrepância, disparidade. E de novo o contraponto: o deslumbramento do viajante, significativamente mais com a natureza e com os animais do que com os seres humanos, o que é próprio do seu pessimismo anti-hegeliano e anti-marxista. Há indícios perfeitos, como os desastres com os autoclismos e o equívoco do enterro. Há actos falhos, assim dizem os brasileiros, como o sonho da criança abandonada pelos pais. E há desastres anunciados, como a reunião com Luís F., que aparece acompanhado de um filho enfezado, e com atraso por se ter envolvido (é o que diz) numa cena de pugilato com alguém que o injuriou. Tudo isto faz do seu livro um objecto não-identificado, estimulante, em que há muito da carta do descobrimento de Caminha e da escrita de um Darwin ou de um Bougainville. Trata-se de uma viagem filosófica, um novo Supplément au voyage de Bougainville, mas desta vez não há bons selvagens. Antes pelo contrário.
Agradeço a oferta, a dedicatória e o prazer da leitura.
Amadeu Lopes-Sabino: escritor, romancista
Meu caro António! Recebi com alegria o teu diário de viagem pelo Brasil, no já distante ano de 1999!
Mergulhei imediatamente na leitura, com essa ansiedade que têm os nativos de saber à opinião dos outros sôbre sua própria terra. E imediatamente senti-me como um enorme protozoário cujos cílios metem-se à vibrar com a força do teu relato!
É incrível o sentimento de pertencer à uma realidade incorporada dentro de si, apesar de tanto tempo vivido no exterior!
Minha mãe era de Belém, e tive a oportunidade de lá ir com treze anos de idade. Ao ler-te voltaram de roldão todas as memórias! Cheiros, gôstos, luzes e florestas…e com que fôrça! Além do mais descreves o Rio de tal jeito, que não pude deixar de me invadir por uma crise de nostalgia!
Obrigadíssimo por tão régio presente, que veio nutrir minha alma com ardor.
Rafael Hime: pianista brasileiro que vive em Paris
(…) recebi ontem o livro do António já estou lendo e…adorando. Que belo livro e que justas referências. Até acabei gostando mais deste país desastroso, mas só porque gostei do livro.
Parabéns, António.
Vilma Arêas: professora de literatura na UNICAMP, especialista em literatura portuguesa