Luís Carlos Patraquim apresentou Os Filhos de Mussa Mbiki, de José Pinto de Sá, na Livraria Dom Pepe, em Évora, no dia 2. Um excerto:
«Os Filhos de Mussa Mbiki reúne cinco narrativas. A selecção é criteriosa: vai da guerra colonial – “Chama-se Eusébio e Acabou-se” –, até ao glorioso pós-independência que a todos nos foi dado viver.
Quase short stories, a técnica narrativa ao serviço de situações-limite, trazendo do new journalism a frase incisiva e certeira que lhe interessa, apostado numa panóptica expurgada de antinomias, mordaz, como no conto “Fica para Amanhã”, onde, num desenlace inesperado é todo um mundo que desaba com a vigilância e a delação que autofagicamente castiga e se castiga, tudo começando à mesa de um bar, na amena cavaqueira de dois cidadãos que desabafam sobre a vidinha e a política – quo vadis, homem novo? – José Pinto de Sá tem o swing do conto. Em “Depois da Paz”, narrador e narratário – outra vez um bar – tecem laços de cumplicidade onde avulta uma espécie de abjeccionismo sublimado anulando toda a narrativa oficial sobre a libertação da mulher. “Asas de Corvo” expõe-nos a pura mecânica do desejo sem lamentos à Catulo, «manda Amor», etc – nem inquietações à George Bataille. Liturgia que se cumpre sem linguagem, num erotismo cru, desesperado, funcional, enquanto a violência e a morte anónima, urbana, nocturna, ronda os corpos desesperados no outro lado da janela, no quintal.
Sem preocupações de nenhuma estratégia de legitimação identitária – ele há tantas – o autor de Os Filhos de Mussa Mbiki vem desarrumar algumas convenções sobre a narrativa que se escreve em Moçambique. Não cabe em escolas, não as quer; não sofre da famosa «angústia da influência». O que José Pinto de Sá nos propõe é um outro caminho. Os Schoolars mais diligentes quererão arrumá-lo em alguma prateleira teórico-identitária. Pressinto que o autor se está nas tintas. É favor ler e pedir outro livro. Com lombada, de preferência.»