O romance Até para o Ano em Jerusalém de Maria da Conceição Caleiro (Companhia das Ilhas, 2015) integrou a short list de narrativa dos Prémios PEN Clube Português referentes a 2015.
«Até para o ano em Jerusalém é uma metáfora do século xx, um século que gerou revoluções e genocídios, segundo Hobsbawn, a maior guerra civil europeia de sempre. E no centro a escuridão irradiante da Shoa. (…)
A história de Maria Luís e de David é também uma história de desamparo que os leva numa espécie de peregrinatio ad loca infecta, de Lisboa aos Açores, ao Brasil, à memória de um tempo alemão passado, mas tão presente. Para estes dois toda a terra é uma expulsão: a Europa expulsa os judeus, os Açores expulsam o exilado, o Brasil acolhe, integrando, assimilando, isto é, expulsando cada um da sua identidade, esbatendo quase todas as diferenças. (…)
Maria Luís e David não sabem que a terra mítica do encontro, Jerusalém, é uma terra provisória, ou melhor, impossível, que o leite e o mel só correm nos textos. E que é neles que muitas vezes se renasce.
Como diz Derrida em Donner la Mort, a Europa sofre de não assumir a responsabilidade, quer dizer, a memória da sua história como história da responsabilidade.
Até para o ano em Jerusalém é também um texto contra uma Europa que esqueceu, transformando o Holocausto, a guerra fria e a sida em temas de discussão académica, esquecendo que as tragédias só verdadeiramente nos questionam enquanto o seu núcleo obscuro permanecer de certo modo inabordável. A explicação pode ter o efeito perverso de uma desculpabilização. De uma desfiguração.»
Rui Nunes: excertos da apresentação feita no dia 8 de Maio de 2015 na FNAC/Chiado com Gonçalo M. Tavares, leituras de Cláudia Jardim, Natália Luiza, Paulo Lages e Pedro Zegre Penim.