Conceição Caleiro em Novos Livros

Entrevista de Maria da Conceição Caleiro à revista on-line Novos Livros:

 

O que representa para si, no contexto da sua obra, o livro Até para o Ano em Jerusalém?

Maria da Conceição Caleiro (MCC): Creio que a história advém da minha (hiper)sensibilidade, se calhar mesmo excessiva à situação de vítima, ao impoder da vítima. Seja o perseguido por qualquer demência (política, ideológica como o nazismo), seja pela doença. Pelo escândalo que por natureza é qualquer uma das situações. Também se jogam espaços que me são obsessivos: o Brasil, os Açores.

 

Qual a ideia que esteve na origem deste livro?

(MCC): Antes de mais, é uma história de amor. É uma espécie de inquérito sobre a natureza do Amor, os seus limites. Até onde ele se impõe ao resto ou, pelo contrário, se deixa abafar pela cobardia e o medo, o ímpeto mais forte da sobrevivência, pela sua representação em cada um fantasmática. Largando qual cauda de cometa um rastro que resiste a ficar totalmente apagado. Esteve para se chamar Che Cos’è l’Amore, Che Coss’è l’Amore título de uma canção de um autor que adoro, Vinicius Capossela. Mas a possibilidade de ser lido como ‘Xê’ em português alterou o título.

No meu livro anterior, jogava-se também o desmedido de uma paixão, paixão e fuga, digamos. A partir das Ilhas atlânticas. Quem sabe se não os Açores?

 

Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?

(MCC): Penso escrever um romance que se passa sobretudo em Portugal, em Lisboa. Do fim do Século XIX até meados do século XX. Atravessa o fim da monarquia, a República, o Sidonismo, o milagre de Fátima e o início do Estado Novo. A história de uma família profundamente religiosa, oriunda do Algarve, residente numa espécie de palacete em Alcântara. O tio foi o Cardeal D. José de Almeida Neto, franciscano. Centrada numa mulher, no que ela deixou escrito, nos desenhos, as pautas de música. E não é muito. Mulher extremamente complexa, culta, talentosa, apaixonada… e talvez infeliz. Não se sabe ainda.