Um rapaz chamado Rupert partiu-te o nariz com um pau?
Guilherme Pelote
Sentado no aeroporto e ansiando por chegar a Londres para a antestreia de um filme, um escritor desenvolve um alter ego na sua mais recente peça, apoiando-se em memórias do passado, tais como o dia em que um rapaz chamado Rupert lhe partiu o nariz com um pau.
Prefácio de Carlos Avilez.
Excerto
AEROPORTO
ELE Deviam internar-me na merda do hospital.
ELA Acontece a todos.
ELE Quando o meu avô queixa-se de que já não o consegue pôr de pé, eu rio-me, percebes? Rio-me.
ELA Acontece a todos.
ELE Não, não acontece a todos. Acontece aos reformados, pessoas que perderam a habilidade de usar a ferramenta que lhes proporcionou uma vida de prazer sexual e vangloriação masculina, pessoas como o meu avô, pessoas como eu, que me juntei precocemente ao clube dos reformados.
ELA Voltamos a tentar no hotel, essa atitude de merda não ajuda.
ELE Vangloriação? Essa palavra existe?
ELA Uau.
ELE Deviam internar-me na merda… e ficar em coma… em coma, percebes?
Pausa.
Deviam internar-me na merda…
ELA Não é fácil foder numa casa de banho, percebes? Há sempre pessoas nas redondezas, há quem ceda com a proximidade de estranhos.
ELE Nós fodemos na casa de banho dos deficientes, na merda da casa de banho dos deficientes. Viste algum deficiente nas redondezas?
ELA Uma casa de banho é uma casa de banho, há quem não se sinta confortável em casas de banho.
ELE Preciso de confessar uma coisa.
Pausa.
ELA Achas que precisas de consultar um especialista?
ELE Um especialista?
Pausa.
Um especialista em quê?
ELA Tu sabes…
ELE Não, não sei.
ELA Um especialista em… tu sabes…
ELE Não, não sei.
ELA … aumentar os níveis de confiança… e… tu sabes… consigas dar conta do recado… uma boa performance…
(…)
Nota de leitura