Um Poeta Rodeado de Mar
Armando Côrtes-Rodrigues
Selecção, organização e notas de Nuno Dempster e Anabela Almeida
O silêncio do mundo com que o mar rodeia uma ilha não só alimenta a solidão da gente que vive nela, como, até há pouco, impedia de serem vistos e ouvidos longe os seus criadores de arte. Viviam numa espécie de exílio na sua própria terra, um exílio diferente do que sofrem quantos deixam o país. Aquele chama-se insularidade; este, emigração, mas os resultados são semelhantes. Sofreu-os Armando Côrtes-Rodrigues (Vila Franca do Campo, 1891-1971), embora por escolha própria. Foi pouco depois de ter chegado à capital, em 1910, que conheceu Fernando Pessoa e que o caminho da sua poesia se iniciou, segundo as suas próprias palavras.
É esse caminho que queremos mostrar, desviando-o do silêncio que tem rodeado a obra do poeta.
A disposição dos poemas nesta antologia está organizada pela ordem cronológica da edição das obras, seguindo a disposição dos poemas nelas, menos no volume de recolha mencionado, por não ser obra do poeta, bem assim a deslocação, devidamente anotada, de um poema dessa recolha para Planície Inquieta, poema que quisemos dar a ler, procurando, no entanto, manter a unidade da colectânea, razão exclusiva dessa mudança.
Venda directa: pedidos para o e-mail companhiadasilhas.lda@gmail.com – desconto de 10% e oferta de portes de envio.
Excerto
Dá-me as tuas mãos,
que tremem, frágeis, no pavor da vida:
eu as acalmarei.
Dá-me os teus olhos,
magoados de lágrimas secretas:
eu os alegrarei.
Dá-me os teus cabelos,
para cobrir a nudez da tua alma:
eu os desprenderei.
Dá-me o teu coração,
trespassado do frio do abandono:
eu o aquecerei.
Nota de leitura