Um fio atravessa a noite

Diniz Conefrey

Não sabíamos nada das cores. Respirávamos nas alcovas do desejo com um labor secreto por tudo aquilo que está para vir, amadurecendo na densidade do tempo, no interior do mundo que não fora feito pela humanidade. Calaram-se as vozes e ergueu-se o poema alterando-se na combustão das cicatrizes de tudo o que, por intocável, aspira à libertação do amor. Escutamos os pássaros nervosos que perseguem os dias, como se do último se tratasse.

Ilustrações do autor.

 

Excerto

INFLORESCÊNCIA
A princípio não se percebia bem que formas eram aquelas, cada qual suspensa por uma longa haste cilíndrica estreita e escura. Pois daqueles corpos escultóricos cintilavam tiras metálicas que pendiam muito finas e ágeis, respondendo às correntes de ar numa dança trémula, conferindo à forma que as sustinha uma vida adjacente; uma vibração, parecendo querer soltar-se da forma central. E todas as formas, nitidamente recortadas pelo fundo de um azul solar, assumiam configurações maciças, distintas entre cada uma delas. Uma espécie de arrepio corpulento vogando no alto, de onde novelos de tranças oxidadas pendiam, brilhando por entre estiras compactas de ferrugem, lançadas num suspiro que desce enquanto sobem as hastes, cambaleando seguras ao chão.

Nota de leitura

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-9007-02-4

Dimensões: 14x22cm

Ano: 2020 | Fevereiro

Edição: # 189

Género: Poesia

Colecção: azulcobalto # 082

Nº páginas: 84

PVP: 14 €

Autor