Últimas Regras
Inês Lourenço
Em Últimas Regras abre-se novamente aos leitores o universo poético de Inês Lourenço retomando a fórmula iniciada em Ephemeras (Companhia das Ilhas, 2012), onde se conjugam a prosa poética, a micro-narrativa e a tonalidade mordaz e ácida característica da autora.
Excerto
ÚLTIMAS REGRAS
Com a ponta do dedo indicador humedecida no líquido vermelho acastanhado, desenhava na folha branca do bloco, sentindo a rigidez macia do papel deslizar em suporte dos húmidos traços. Delineou o contorno de uns seios, entre os sulcos que evocavam um torso feminino. Supunha que deveria ser essa, depois de longo hiato de meses, a sua última menstruação. Lembrou-se de a usar como material plástico. Certamente ficaria com um tom próximo do sépia, depois de terminado o esboço que se juntaria, esquecido, a outros recreios visuais, na costumeira pasta de cartão onde, há muito, as regras da perspectiva tinham cessado.
Nota de leitura