Três textos excêntricos

Carlos J. Pessoa

Em Três Textos Excêntricos cada uma das obras propõe um universo textual e cénico com características próprias que decorrem de um processo de investigação artística desenvolvido entre autor e actores, postulando um conjunto de possibilidades formais e semiológicas que se desviam da estrutura do texto dramático, procurando novos centros, originais, mas que, ao mesmo tempo, se relacionam intimamente com a mecânica da cena e com os movimentos de transformação que observamos no Mundo: a comunicação, os meios de comunicação e de exposição, as fronteiras, a família, a memória e o tempo. Assim, os três textos que escolhemos, Raide, Ela Diz e Display, configuram na sua estrutura e temas os conceitos de: narrativa e percurso (num Portugal recente); sujeito, discurso e repetição, (nas relações de filiação); exposição (de factos relacionados com o fazer teatral em dispositivos alternativos que permitam novos pontos de vista). Neste sentido o volume é também um discurso/manifesto, como um mecanismo de uma locomotiva que garante a possibilidade de uma deslocação regular, num sentido determinado [excêntrico é também o órgão montado sobre o veio, que numa máquina, transforma movimento de rotação em movimento de vaivém].

 

Excerto

This Play (Display)

Broken Blossom — This Play is a Display.

A Rose Is — This Play is about a woman talking on a cell phone, she is smiling.

Olga Knipper — O tom da actriz é sempre sereno; neutro. Pode fazer comentários jocosos, mas é sempre subtil. A actriz acrescenta no princípio e no fim das suas intervenções: “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência; tudo o que vos conto é teatro e nunca aconteceu, pelo menos desta maneira”. Pode acrescentar: “o teatro, meus senhores…” Não vou fazer nada disto! Eu sou da escola russa; devia haver aqui mais energia, mais Beethoven!…
“A actriz deve demarcar-se da tonalidade anterior fazendo uma inflexão no registo…” Ok… “Não tenho nostalgia nenhuma; barretes em pele de marta dizem-me pouca coisa, já o estilo da nossa casa de campo, como direi… Rural! Sim senhor, mas com charme, um lustre, por exemplo! Havemos de falir um dia…” Mudança de registo. “Que importa isso, minha senhora?” Chorando. “Não me venha com malmequeres, não dispenso o meu perfume.” “Gosto disso!” “Eu sei que gosta disso, seu tarado… ah, ah!”

Broken Blossom — This Play is about a car

A fast car driving away on the highway

This Play is about a sort of reminiscence.

A Rose Is — Reminiscence.

Olga Knipper — Viver é como tirar as pétalas a um malmequer; bem me quer, mal me quer, até se acabarem.

Broken Blossom — This Play is a Display.

 

Nota de leitura

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-8828-39-2

Dimensões: 14x22cm

Nº páginas: 164

Ano: 2018 | Maio

Edição: # 131

Género: Teatro

Colecção: azulcobalto | teatro # 021

PVP: 15 €

Autor