Seis Histórias Paralelas baseia-se em seis mitos da Grécia Clássica, cada história o seu mito, passados para personagens de hoje, mais concretamente para a sociedade dos anos 70 da Beira Alta rural, com o fim de a narrativa se chegar mais à sociedade de economia de subsistência dos gregos antigos, que agricultavam para comer e vender o sobejante, como em Portugal antes do 25 de Abril. Cada história é identificável pela epígrafe que a encima, pelo destino de cada personagem e por uma ou outra circunstância do enredo: Pã, Teseu, Minotauro, Sísifo, Ícaro, Delfos, a pitonisa, e os camponeses do século passado, de outras vidas e de outra gente. As histórias são a chave para lembrar que a essência da humanidade não se altera.

Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com 

Excerto

A FLAUTA

Quando Tamus chegou diante de Palodes, olhou para terra e repetiu as palavras que ouvira: «O grande Pã morreu.» Ainda antes que acabasse, o ar encheu-se de gritos e lamentos, não de uma mas de inúmeras pessoas, misturados com exclamações de espanto.
Plutarco

Era uma noite quente de Agosto. Pedro sentou-se à sombra do castanheiro no claro luar e executou na flauta o assobio do melro. Isabel ouviu-o e dirigiu-se, sorrateira, à cabana onde ele a teria, a ela e, na altura respectiva, às demais seduzidas. Respondiam a chamamentos próprios e todos reproduziam cantos de pássaros. Noite fechada, soava um dos trinados, chamando uma delas em cada dia e inquietando os habitantes do lugar. O velho, já deitado, perguntou no escuro à mulher quantos pássaros arremeda ele? Alguma vez os contaste? Destrinça-los todos? Este é bem fácil. É o de um pássaro que tivemos há muito. Com isto, ainda não sabes qual é? Não? Estás chocha de todo. Cala-te, cala-te, recalcitrou ela, irritada e receosa, não quero ouvir-te, Deus fecha-te a boca para sempre, desgraçado. Recordava as palavras do pároco. Denunciara na missa que não poucas filhas de Deus tinham deixado de frequentar o confessionário. O pecado paira sobre a Terra, atento como uma águia, tinha dito na prédica. É um dever de todos nós conduzir os pecadores aos caminhos do Santíssimo. (…)

Nota de leitura