Rufina
Miguel Soares de Albergaria
Maria Rufina embarcou para os Açores em 1880, para aí viver com duas tias, depois de, ao ter ficado órfã, ter sido internada no hospício de alienados de Recife-Olinda. Em Ponta Delgada casou-se, nasceu-lhe um filho, para, cinco anos depois, na bancarrota de Portugal, o marido falir e suicidar-se. Duas alternativas restaram a Rufina. Ao decidir entre elas, escolheu a pessoa que seria, abriu um futuro ao filho, como ainda estabeleceu o sentido por que este a interrogou para se orientar na crise política do país no início do séc. XX.
Uma história inspirada em pessoas e factos reais.
Excerto
O mar tornara-se ainda mais alteroso com a aproximação à ilha, que se estendia, parda sob as rajadas de chuva e vento, a estibordo do vapor que a custo subia e descia as vagas cor de chumbo. Quase todos os passageiros se haviam retirado para os seus camarotes e beliches, ocupados apenas com os baldes para vomitar os que não tinham crianças à sua conta, e também com o enjoo destas quem as tinha. Rufina estava igualmente enjoada. Mas calou a náusea e a dor de cabeça sob a expectativa, e a primeira avaliação, da terra para onde vinha viver. A ilha do seu pai.
Nota de leitura