Polaroides
Maria José Palla
Estas polaróides foram realizadas entre 1996 e 2003, em Paris, em minha casa. Fi-las quase sem encenação. São imagens que revelam solidão e tristeza de alguém que vive num país que não é o seu. Vivi em dois países, tenho uma vida dupla. Duas línguas, duas culturas. Andarei à procura da minha identidade?
Quando me fotografo, torno-me um objecto duplo, uma imagem do que é e do que já foi. Assim, quando me vejo, estou reduzida à categoria
de natureza morta. O modo recorrente destes auto-retratos é uma forma de assinatura, uma sombra projectada, que se une ao corpo, uma espécie de negativo. É um trabalho solitário. Tem de ser algo que sai inteiramente de mim.
A imagem de um rosto é sempre poderosa. Sempre desejei fotografar rostos. E assim o fiz. Do rosto dos outros passei ao meu próprio rosto. Estava à mão. Não necessitava de modelo: eu sou o meu objecto de representação, eu sou o meu próprio modelo, o meu rosto está colado a mim. É uma liberdade.
O meu gosto pelas séries, pelo registo, pela memória (gosto que resulta certamente da minha profissão), esteve na origem de trabalhos anteriores: retratos de poetas portugueses, 50 rostos de Macau.
Fotografar com uma Polaroid é mais perigoso do que fotografar de qualquer outro modo. Não controlamos a luz, nem a distância, nem a velocidade. Não dominamos a máquina – a imagem é revelada dentro da máquina e o resultado é-nos dado de forma imediata.
As polaróides estão dispostas em função da cor, das mais escuras para as mais claras. Para a luz.
Maria José Palla
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Excerto
Nota de leitura