Quase a completar 75 anos de idade, um dos maiores escritores açorianos dá-nos mais uma prova da sua criatividade em novo livro de poemas, “vadios”: «sentado à porta da morte um dia / — quem sabe? — ainda vai tomar juízo.»

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Excerto

sentado à porta da morte o poeta ouve
o halo esquisito da eternidade.
um bafo de silêncio pende
da boca de cena onde antes a vida
representara os actos que escolhera
desconhecendo que a sua importância
nada tinha a ver com o rodar do tempo.
os versos do poeta por exemplo machucaram-se
de encontro à serena inquisição das mãos
que os condenou ao estrume do imprestável.
não vem ao mundo qualquer mal por isso.
o poeta vai continuar a cultivar a veleidade
de que tudo seria mais triste
se não andasse a rimar o pavor da morte
com o sossego infinito do além.
sentado à porta da morte um dia
— quem sabe? — ainda vai tomar juízo.

Nota de leitura