Pequeno Livro de Elegias

Daniel Gonçalves

Este pequeno livro de elegias aconteceu para suportar o desgosto da partida de Bernardo Sassetti. Apesar de a sua música nos confortar para sempre, não deixa de ser um futuro que se interrompe. Assim, como assim, o fim vertiginoso de poetas, que não suportaram o peso da vida. Estes poemas, apesar de divididos em duas partes, formam um círculo elegíaco, dizendo do que ficou e do que sempre permanece, quando nos libertamos da lei da morte.

 

Excerto

era a charneca em flor, ou então o poço acautelando a
noite, o soneto tirado do peito, como uma faca cortando
as horas, gretando a espera, pondo de lado o pão duro
e o leite azedo. era o livro de mágoas, como uma
torneira misturando a loucura gelada com a boca
quente, enchendo a banheira onde antes bebia um lobo
e agora se afunda a alma. era o dominó preto, a viuvez
do primeiro amor, como um vestido a quem avariaram
as asas, e se despenhou no fundo do armário, junto
do botão perdido. era o relicário da noite, ardendo com
as máscaras do destino, uma vida impossivelmente
inclinada, sem música nem água, com o gáudio dos
pássaros a passar ao lado, a alma a cravar os seus dentes,
nos destroços solenes, do avião que nunca subiu. era
o diário do último ano, a escrever-se de fora para
dentro, como um poema rematando-se na dor
anunciada do adeus, precisamente o não haver gestos
novos, nem palavras novas, apenas uma casa
interrompida e uma pergunta por responder.

Nota de leitura

Ficha Técnica

Género: Poesia
Ano: 2016
Colecção: azulcobalto 35
Número de edição: 076
ISBN: 978-989-8592-97-2
Dimensões: 11×15 cm
Nº de páginas: 48
PVP: 10 €

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