“Pequena Voz. Anotações sobre Poesia” é, antes de mais, um livro de poeta. De um poeta que diz que «Um poeta não deveria falar de poesia – tem dela sempre uma ideia inútil para os outros»… Esta indução de impossibilidade inaugura um jogo de encruzilhadas onde as nossas pequenas e grandes certezas são questionadas pelo seu interior: pelo fazedor de poesia que arrisca questionar o seu fazer e o dos outros – no interior da linguagem, do pensamento.

O pensar sobre a natureza e o fazer do poético têm uma longa tradição; cada época (ou tradição literária) tem produzido os seus cânones e, ao mesmo tempo, demandado as falhas internas que os estilhaçam; Nuno Félix da Costa – “fabro” de várias artes – parte da falha, que é, ela mesma, motor poético e elemento perturbador e o resultado é: um livro fulgurante, como poucos (em Portugal, num campo onde se cruzam nomes como M.S. Lourenço, João Barrento, Silvina Rodrigues Lopes ou Manuel Gusmão).

ÍNDICE

1. O que um poeta pode dizer da poesia

2. O que se sustenta como se decorresse da noção de poesia

3. As expectativas da poesia: do paradoxo ao que já não é

4. Os paroxismos na linguagem

5. Mistificar o eu

6. Tipologias poéticas

7. Como falham os poemas e outros são sublimes

8. O poema e o seu poeta

9. O fazer do poema e a poesia já feita

10. A leitura, a crítica, o aborrecimento

Excerto

Cada poeta forma ideias próprias sobre a poesia e, em função delas, toma-a como instrumento de combate, de indagação, de ação revolucionária, de expressão plástica ou, no plano dialógico, como meio de persuasão, de sedução, de convocação da atenção no plano das ideias ou das ideias sobre o rearranjo do mundo. Com Benjamin pode-se dizer o poeta possuir, uma «pequena força messiânica» que não o vincula, contudo, a explicitar uma ideia de progresso ou de utopia tão só a exercer essa força como qualquer outro que a possua. De qualquer modo, deveria praticar uma normatividade não panfletária nem deontológica, nem, muito menos, ingenuamente messiânica, deveria perseguir um propósito forte, não ornamental nem sequer, apenas, estilístico.

Nota de leitura