Para Onde Vamos, Irmãs?

Mário T Cabral

OBRAS DE MÁRIO T CABRAL

Com desenhos e pinturas do Autor. Apresentação de Luísa Ribeiro. Nota editorial de Alexandre Borges

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Serenidade e urgência, mas nunca medo: no confronto com as revelações implacáveis que a morte lhe traz, o sujeito destes poemas não resvala um só passo. Pelo contrário, mune-se dela. Pressentida e, portanto, desarmada, rendida ao poder criador do verbo, tão indefesa quanto libertadora, como em Antero, tão despida que se abre, a morte reduz-se, como nos célebres versos de Herberto, a nada mais do que uma «porta / para uma nova palavra». Que palavra? Esta parece, de facto, ser a pergunta suscitada pelo título.

Para Onde Vamos, Irmãs? reúne textos escritos e reescritos entre 1985 e 2017, ano em que o poeta terceirense «enrolou todo o seu corpo em forma de viagem» e adormeceu como «as sementes que o lavrador atira, de mão em leque». A evidência da passagem e da partida não lhe merece nenhum timbre condoído, nenhum desconsolo encolerizado – à harmonia entre lei e natureza responde com a lucidez de quem «aprendeu a serenar», de quem regressa ao «reino do sol», como quem adquiriu um imperturbável «conhecimento sinestésico», mesmo que todo o conhecimento, já dizia o sábio do Eclesiastes, acarrete tristeza. É a tristeza, todavia, de quem constata estar só quando o sol «lhe entra pela boca» – nada que se compare com a miséria daqueles que querem ficar «vivos para sempre / ressequidos e podres».

 

Excerto

PRIMEIRO POEMA DE 2017
Se eu tivesse morrido em 2014
Não teria sabido que as araucárias afinal florescem
E que a minha está carregada de embriões.

Se eu tivesse morrido em 2015
Não teria descoberto o concerto para violino op. 35
De Tchaikovsky; e Rachmaninov e Shostakovich

Se eu tivesse morrido em 2016
Não teria provado o arroz basmati
Que só com o cheiro alimenta

Que haverá de tão simples e esplendoroso
Para me ser revelado em 2017?
A vida pela primeira vez.

Seja como for, é o meu corpo que vai à minha frente
Não sei muito bem que nome dar a este estado de alma
Está próximo da plenitude.

 

Nota de leitura

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-9007-67-3

Dimensões: 17x23cm

Nº páginas: 72

Ano: 2022| Janeiro

Género: Poesia

Edição: # 250

Colecção: Obras de Mário T Cabral #003

PVP: 15,50 €

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