Para além do Muro / Jenseits der Mauer

Gisela Cañamero

Edição bilingue (português / alemão).

Versão alemã de Dorothée Leipoldt.

Prefácio de António Sousa Ribeiro

O tema é o do Holocausto, com referência particular ao gueto de Varsóvia. A cena passa-se em 1961, em Berlim, no dia em que vai iniciar-se a construção do muro que ficaria como símbolo máximo da Guerra Fria. As poucas horas recobertas pela acção dramática são dadas pelo texto num crescendo de tensão, que se vai adensando até ao limite do suportável.
Integralmente escrito no modo trágico, não consente qualquer possibilidade de reconciliação. Não há salvação para as personagens. Mas o drama também não deixa qualquer espaço para uma catarse em que o leitor ou espectador possa encontrar a sua salvação numa qualquer forma de conciliação com o mundo.
O convite de Para além do muro à revisitação de uma memória trágica é particularmente oportuno, e mesmo urgente, numa era que algumas visões eufóricas tendem a ver como de superação das fronteiras, demonstrada, por exemplo, pela queda em 1989 desse mesmo muro de Berlim. Na verdade, como um olhar minimamente lúcido não poderá deixar de notar, os muros não deixaram de existir, antes, pelo contrário, vão proliferando.
Para além do muro, ao lembrar-nos, através da confrontação com o destino trágico das suas personagens, que o trabalho da memória está, por natureza, sempre inacabado e que a luta contra o esquecimento é também a luta por um mundo habitável e partilhável para além dos muros, é um texto que dialoga com as interrogações mais fundas da nossa contemporaneidade e que pode, a partir de agora, reivindicar um lugar de pleno direito no cânone transnacional da literatura do Holocausto.
(do “Prefácio” de António Sousa Ribeiro)

 

Excerto

DAVID
não há grande heroísmo
quando a escolha
é sempre a morte

morrer resistindo
ou pela execução
(perdido nas memórias)
seguir para Treblinka
passou
a estar fora de questão
(de cabeça baixa)
a fuga
era rara
mas acontecia

preferíamos talvez não saber
mas soubemos
como era difícil separar os corpos
as pessoas acabavam numa amálgama de abraços
dura como basalto
(recuperando o tom inicial)
morrer resistindo
não era portanto uma opção

apenas uma tentativa de honrar
a dignidade humana
um último alento antes do estertor final

Nota de leitura

Ficha Técnica

Edição bilingue (português / alemão)

ISBN: 978-989-8828-98-9

Dimensões: 14×22

Nº páginas: 136

Ano: 2019

Nº Edição: 168

Azulcobalto | teatro: 027

Género: teatro

PVP: 12 €

Autor