Palco de Textos (I)
Álamo Oliveira
Palco de Textos (I) reúne três peças teatrais de Álamo Oliveira: A Solidão da Casa do Regalo; Almeida Garrett – Ninguém; Quatro Prisões Debaixo de Armas.
Em A Solidão da Casa do Regalo, a acção decorre no Monte Brasil (Angra do Heroísmo). Voltada para a baía, a casa é um regalo para os olhos. Menos para D. Afonso – o VI –, exilado e espoliado da esposa e do reino. Partilha os dias e as noites com a solidão e com o seu pajem. Coxo, doente, envelhecido, D. Afonso é a máscara de todas as desolações. Álamo Oliveira constrói um teatro dentro do teatro, com uma singular relação entre o rei e o seu pajem…
No II Centenário do nascimento de Almeida Garrett, o grupo de teatro Alpendre propôs a produção de um texto que fosse, dentro do possível, uma síntese bio-bibliográfica do autor de Frei Luís de Sousa. Essa proposta deu origem a este Almeida Garrett – Ninguém.
Quatro Prisões Debaixo de Armas é a adaptação do célebre conto de Vitorino Nemésio, com o mesmo nome, tendo como figura central o truculento Matesinho.
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Excerto
MATESINHO
– E lá fomos os dois pró chilindró e cum tiro bem aqui, caise ao pé das partes que m’ia luvando o melrim. (Arregaça as calças). Veja-me este godolhão! Ficou-me aqui que nem ovo de duas gemas, pó resto da vida…
QUEIMADO
– Estou a ver… Então andaste metido em ladroeiras?!
MATESINHO
– Lá isse nã, graças a Dês. Fui sempre ua praça limpa.
QUEIMADO
– Vocês não foram presos por serem bons rapazes…
MATESINHO
– Sou de Sã Matês, mas roibar, nem a ponta de um corno a quem nos tenha. (Muda de tom). Em Almeira, conheci o Valantim, que dezio qu’era filho do José do Telhado…
O pequeno António entra na mercearia e vai-se aproximando da mesa onde conversam Matesinho e Queimado. Durante a conversa, vai procurar o momento mais adequado para se sentar na mesma mesa. Só mais tarde eles se apercebem da presença dele.
QUEIMADO
– Filho do ladrão mais famoso de Portugal…
MATESINHO
– Ladrão não é bem assim. Ua pessoa que roiba dos riques pra dá aos probes, se é ladrão, ao menos é um ladrão c’ma deve sê. A gente precisava praí ua dúzia deles só aqui prá nossa ilha…
QUEIMADO
– Olha que uma dúzia é demais… Não há tanto assim para roubar.
MATESINHO
– Vossa Sioria nã me parece que padeça de visão. À sua volta, há mais presidentes que no tempo da menarquia. E guerras nã tem faltade, que vão chegando até aqui.
QUEIMADO
– O governo ajuda os nossos aliados…
MATESINHO
(interrompendo)
– Essa estranja toda que anda praí, feita de falas doces, é qu’estão a dar cabo da Praia e das mulhés da ilha.
(De Quatro Prisões Debaixo de Armas)
Nota de leitura