O Vale da Estranheza

Catarina Costa

No vale da estranheza vamos deparar-nos com aquilo que não coincide consigo mesmo, é dúplice e está desfocado. Vamos encontrar todos esses seres sem encaixe: marionetas de gestos incertos, marionetistas na sombra, pessoas que não sabem domar as suas próprias personagens, criaturas no limiar da humanidade. Tão próximo de nós, um robô vai-se parecendo humano até ao ponto em que as parecenças se tornam monstruosas e tudo se torna demasiado estranho.

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Excerto

A dupla vida de Véronique

Às vezes chego a pensar que sou como Weronica/
/Véronique, cada uma delas sentindo existir em dois lugares ao mesmo tempo, o lugar que se conhece,
e um outro, algures. O preço a pagar é, paradoxalmente, o da solidão, o de saber que há uma parte de mim noutro ponto inalcançável. Mas eu não tenho um duplo como ela(s), apenas reverberações, prolongamentos, despojos, ecos. Weronica e Véronique não se sentiam fragmentadas. A nostalgia que perfilhavam era a de estarem apartadas uma da outra. Dois reflexos de um espelho no equívoco do desencontro. Véronique viu Weronika numa fotografia: o seu duplo perdido. Reconheceu-se. Mas eu, em quê e onde me reconheço senão em fracções sem rosto? Do outro lado do espelho, sombras fugidias e feéricas não me reflectem: prolongam-me até à dissipação.

Nota de leitura

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-9007-33-8

Dimensões: 13x18cm

Nº páginas: 76

Ano: 2021| Janeiro

Edição: # 218

Género: poesia

Colecção: azulcobalto 096

PVP: 14€

Autor