O Vale da Estranheza
Catarina Costa
No vale da estranheza vamos deparar-nos com aquilo que não coincide consigo mesmo, é dúplice e está desfocado. Vamos encontrar todos esses seres sem encaixe: marionetas de gestos incertos, marionetistas na sombra, pessoas que não sabem domar as suas próprias personagens, criaturas no limiar da humanidade. Tão próximo de nós, um robô vai-se parecendo humano até ao ponto em que as parecenças se tornam monstruosas e tudo se torna demasiado estranho.
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Excerto
A dupla vida de Véronique
Às vezes chego a pensar que sou como Weronica/
/Véronique, cada uma delas sentindo existir em dois lugares ao mesmo tempo, o lugar que se conhece,
e um outro, algures. O preço a pagar é, paradoxalmente, o da solidão, o de saber que há uma parte de mim noutro ponto inalcançável. Mas eu não tenho um duplo como ela(s), apenas reverberações, prolongamentos, despojos, ecos. Weronica e Véronique não se sentiam fragmentadas. A nostalgia que perfilhavam era a de estarem apartadas uma da outra. Dois reflexos de um espelho no equívoco do desencontro. Véronique viu Weronika numa fotografia: o seu duplo perdido. Reconheceu-se. Mas eu, em quê e onde me reconheço senão em fracções sem rosto? Do outro lado do espelho, sombras fugidias e feéricas não me reflectem: prolongam-me até à dissipação.
Nota de leitura