A casa da ilha, à sombra da montanha, parece assombrada, desde a morte do pai, naquele inverno terrível. Por que terá a infância feliz dos quatro irmãos originado susto existencial tão profundo? Que mal fizeram para merecer castigo tão extremado? O Mistério da Casa Indeterminada é um romance clássico, não apenas na forma mas sobretudo nos temas: o que é a vida, o que é a morte, o que é o amor, o que é a arte — e, para Sofia Georgina, a herdeira que encontra a chave do mistério e projecta a casa no futuro, com esperança, o que é ser mulher.

Excerto

– Este é o caminho mais amado de todos nós. Leva aos lugares sagrados da nossa infância sendo, ao mesmo tempo, ele mesmo, em si, imaculado de beleza. Agora é quase impossível perceber ao que me refiro, devido às destruições causadas pela tempestade e por esta neve suja que cobre todas as variações do verde, que mata toda a vontade de manifestação. Para além disso, não há as sombras das árvores, o tilintar das folhas que mistifica tudo. Amo a luz coada pelas árvores. Uns falam do mar, outros desta ou daquela paisagem que foram encontrar no fim do mundo; por mim, o que me toca no fundo do meu ser é a luz coada pelas árvores, o silêncio dos bosques a meio da tarde estival. No Verão, toda esta bordadura se enche de florinhas miudinhas e deslumbrantes, que vivem um só dia.

Nota de leitura