O Justiceiro
Armando Almeida
À semelhança dos restantes humanos – apenas um pouco mais do que alguns deles -, Alfredo vive uma vida normal e ordenada no mundo privado das próprias ilusões, até que, num dia de temporal, um pombo desconhecido, vindo do nada, lhe altera radicalmente a forma de viver.
Excerto
O vidro grande e alto como a janela a que pertencia quebrara-se, mas não inteiramente, pelo que a metade superior da janela permanecia envidraçada e reflectia as massas escuras de água que continuavam a deslizar no céu baixo e rente às casas, enquanto a metade inferior, sem vidro, se assemelhava a uma goela escancarada, um buraco negro cuja glote era um caco triangular, pontiagudo e afiado, que se destacava do bordo da metade superior da vidraça que permanecia presa no caixilho da janela e que se partira por aquela linha tão irregular em resultado do acaso com que o temporal nocturno a fustigara.
Nota de leitura