Novas Estórias Açorianas
Carlos Alberto Machado
Em 2012, o primeiro Estórias Açorianas foi muito bem recebido por leitores e crítica (a obra integra o Plano Regional de Leitura dos Açores e o Plano Nacional de Leitura).
Estas Novas Estórias Açorianas mantêm características que as ligam ao primeiro conjunto: situações e figuras da história e da cultura dos açores e dos quotidianos de hoje, recriadas com ironia e mordacidade.
Eis o que em 2012 escreveu sobre as Estórias de Carlos Alberto Machado a poeta Inês Lourenço: «estimulante colectânea de pequenas narrativas, que nos fazem viajar com gosto e eficácia pela ambiência açoriana. Numa linguagem escorreita e contida, mas plena de referências cultas, numa associação poética entre o concreto e o intangível, vemos desfilar perante os nossos olhos, diversos tipos humanos, cheios de singularidades. Mesmo as vizinhas, as beatas, os velhos baleeiros, os pequenos tendeiros, os eruditos decadentes, comunicam-nos uma espécie de nobreza e probidade, entranhados no fundo marítimo da paisagem insular. Diversos pontos de vista, desde o olhar infantil até aos cambiantes da vida adulta, nos aparecem, numa mansa mas vivaz sabedoria.»
Excerto
A gente olha para a vida e ganha cisma em virar-lhe a carranca; vida que se almeja sinfónica mas não passa de mal-amanhado charivari de gaita e berimbau, como dizia o de Seide. Então, vá de entaliscar-lhe umas ficções bem albardadas de adjectivos pomposos e advérbios rutilantes.
Mas a vida nem assim ajaezada se deixa enredar nas malhas da ficção e escouceia a preceito.
Este voltear que se assemelha a burro às arrecuas em vista de palha nova, apenas serve para vos dizer que a estória que se segue se entaramela pelos trilhos aziagos do que parece e não é, por querer fazer parecença com o que poderia ser e… […]
[de: FURÚNCULOS]
Nota de leitura
Em 2012, Carlos Alberto Machado publicou um volume de Estórias açorianas, heteróclita colecção de vinhetas sobre a vida nas ilhas, que acabava sendo um belo exemplo de etnologia literária. Agora, regressa com mais umas quantas dezenas de prosas breves, no mesmo registo, entre a crónica do quotidiano e a ficção mais cáustica (veja-se o “Manifesto Canino”, sobre um congresso de cães que não podia ser mais humano).
José Mário Silva | Expresso/Atual – «Obrigatório» | 18. 2. 2017