Na Cama com Ofélia
Henrique Manuel Bento Fialho
«(…) Peça no feminino para um corpo feminino, Na Cama com Ofélia tem o arrojo de nos libertar deste Portugal dos pequeninos em que andamos sempre mono-centrados, pois não só retrata, por reflexo, um Fernando [Pessoa] menos conhecido — não está em causa o génio, mas nesta peça não tem espaço de manobra, mesmo sendo citado (mais valia excitado) — como traz à nossa actualidade um olhar novo sobre Ofélia, tão sempre apenas Ophelinha nas coisas portuguesas. Um dia destes, convocada pela sua própria capacidade vidente e rejuvenescida de novo, perde definitivamente os três.»
Fernando Mora Ramos
Excerto
«(…) estou só no meu modo de te amar, o amor caiu em desuso e eu estou só no meu modo de te amar, sinto o tempo passar pelo corpo como por uma floresta passa o fogo. Olha para a máquina de escrever. Fui atravessada pelo fogo, da cinza brotará uma árvore, o fogo não extinguirá as sementes, consigo escutar as sementes brotando da terra, a flor a
desabrochar para que o pólen se liberte, a abelha, o mel. Estou contente apesar de ser (diz o dia da semana em que a peça esteja ser representada).»
Nota de leitura