Incêndios de Rua
m. parissy
A viagem instala-se por dentro dos poemas. Observam-se as escuridões, os rumores, o desmancho dos silêncios. Percurso em diferentes geografias, ao longo de mais de trinta anos. Nas muralhas de Óbidos ou nas montanhas albanesas, nas margens do Lima ou nos cafés gregos, na frente do mar da Nazaré ou no frio irlandês. Poemas dentro de viagens. Mas também o contrário.
Excerto
«Um grupo de rapazes arranca pedras do chão, enquanto um turista capta numa obra magistral o desfecho da luta.
No empedrado das ruas de Óbidos se descobre um jogo, espécie de cabra-cega, sem flash.
E há quem lamente a sorte dos que aqui morreram, mas essa é uma fórmula para a justificação dos imortais.
Adianta pouco curar as mãos com as vertigens que sobram. É imperativo deixar as chagas na geometria certa. Um assalto pela noite invertida.
Nesta outra batalha, rasgamos a estrada num carro de levar no bolso. Paramos na estação de serviço mais próxima, mas a visita é feita de alarmes. Chamam a polícia, porque devem ter visto que os nossos olhos revelam uma linguagem que poucos entendem.»
Nota de leitura