Garrotilho
Luís Chacho
A tradição da pena, coisas a mais. Época arrumada do avesso, fora da cristaleira dos zeros e de uns. Faltámos às explicações e aos chicotes. Subscrevemos o garrote; vida se apagando, apertada, jogada à linha em contramão.
Ó leitor, meu natural companheiro de esgotamento, dá cá um bacalhau. Senta-te, que para café e cigarros ainda vai havendo. Se tens onde ir, à falta de melhor, pois então vai. Amigo não empata amigo.
Luís Chacho nasceu em 1974 e cresceu entre Lisboa e a Outra Margem.
Excerto
GARROTILHO
Por noite assim
Sai à lua uma
Lâmina em curso livre
Incomodando o espinho
Dos ouriços e sua castanha
Metida em segredos, um
Por cada ano
De tudo, de quando
Aconteceu esta estória pois
Somos nós e mais
O que nos sobreviverá.
O testemunho da pedra
Desenhando esquina na propriedade
Que é chão inclinado
A herança terrena,
Estrelas desirmanadas
Dos grilos e das cigarras.
Vento afaga a pedra
Da alma com sua mão
Em tempos
Mortos.
A cedilha do caminho
Pele retorcida e mal
Dirigida pela brutalidade
De berço, apontada
Ao vale onde corre um fio
Dos teus medos.
Nota de leitura