Domesticadora de girassóis
Henrique Manuel Bento Fialho
Os 14 contos de Domesticadora de Girassóis, mais extensos do que é habitual neste autor, exploram universos fantasmagóricos com personagens que tentam equilibrar-se entre o real e o imaginário. O que há de anómalo e de paradoxal nas situações recriadas encontra na multiplicidade formal, que vai da ficção narrativa ao poético, da crónica ao drama, do relato autobiográfico à prosa ensaística e ao diário, vias de expressão para seres cuja existência está em permanente conflito com um mundo onde a separação entre caos e ordem perdeu qualquer sentido.
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Excerto
Gosto de vir a esta parte da casa onde minha mãe amassava com as mãos. Nas traseiras vive esquecida uma mulher antiga. Observo-a curvada, apoiando-se num cajado, chapéu de palha na cabeça embrulhada em lenço negro. Veste uma saia longa de tecido pobre, blusa de flanela adornada por bordados floridos que lhe caem sobre os ombros. Chamo-lhe domesticadora de girassóis por ser deveras cuidadosa com as suas plantas. Ouço-a a falar com os insectos pousados nas corolas e é como se falasse comigo. Ela não me vê, não pode ver-me. Se me visse, por certo assustar-se-ia.
Nota de leitura