Definitivamente as Bahamas / Play House
Martin Crimp
Traduções de Isabel Lopes.
Parceria da Companhia das Ilhas com o Teatro da Rainha.
Definitivamente as Bahamas e Play House são peças umbilicalmente tramadas. Diz Crimp que escreveu a primeira aos trinta sobre um casal de sessentas e a segunda aos cinquentas sobre um casal de vintes. E que o que lhe interessou foi descobrir o que cimenta a relação do velho casal de modo inquebrantável e o que é volátil na relação dos segundos. Entre os dois modos de vida, o tempo. E o que, entretanto, de novas liberdades o mercado também impulsionou — tudo é negócio.
Excerto
– Amo-te tanto. Tu preenches todo o quadro da minha existência.
Adormeço a pensar em ti e acordo com a tua voz a ecoar dentro da minha cabeça. Os teus olhos são tão claros. Se os teus olhos fossem um poço e eu lá deixasse cair uma pedra, a pedra nunca acabava de cair – a sério. Não acredito em Deus, mas acredito em ti. Acredito que foste tu que me criaste. Por isso é que me sinto vivo aqui contigo –
agora – na nossa nova casa. Antes eu era só barro.
– Queres dizer como um bloco.
– Sim, antes eu era como um bloco de barro. Mas agora estou vivo.
Foste tu a criar-me. A sério.
Ela sorri.
Tu tens um sorriso incrível.
Ela passa-lhe um embrulho.
O que é isto?
– Abre-o.
– Para mim?
– Abre-o.
Ele abre o presente: tem dentro uma caixa de cartão, como se fosse uma caixa para bolos, com uma tampa articulada.
Ele levanta a tampa e reage ao conteúdo.
– O que é isto? Merda de cão?
Ela tenta não se rir.
[Play House]
Nota de leitura