Cântico do Estuário
Ricardo Pérez Piñero
Dividido em oito “bairros” desiguais, Cântico do Estuário é uma mescla de delírios e velhos fotogramas, baralhados por um homem que regressa em saudade à cidade de Lisboa.
Edição bilingue (castelhano/português).
Versão portuguesa de Nuno Dempster.
Excerto
Casa do Alentejo
Sonhávamos o mar entre trigais,
o trilho amarelo
que nos levara a casa,
mãe lenço negro,
e toda aquela luz
abrasando a tarde sem janelas
no manto azul do céu imaculado.
A água do açude
murmurava canções.
É grande a alegria dos pobres.
Pouco bastava:
um pão, o vinho forte,
e então a distância,
as pás eólicas nas colinas
e o comboio que voltaria
carregado de lágrimas.
a cidade, a partir do rio
onde arde a água às cegas,
acendia a lua
branca como a noite sobre os girassóis.
Nota de leitura