Caminhos / “Coragem Hoje, Abraços Amanhã”
Joana Brandão
CAMINHOS
Caminhos é um texto teatral escrito a partir do universo ficcional de Truman Capote (Nos Caminhos do Paraíso). A peça narra a história de uma mulher solitária que ainda procura o seu caminho. Mary O’Meaghan, a personagem de Capote, ganha aqui uma história, uma vida, um passado e uma procura incessante de futuro. Uma mulher que acaba por seguir os conselhos de uma velha vizinha, de arranjar um plano para procurar um marido.
O espectáculo teatral com o mesmo nome estreou em Lisboa, no Clube Estefânia, no âmbito do Festival de Monólogos, em 23 de Setembro de 2010.
“CORAGEM HOJE, ABRAÇOS AMANHÔ
Texto teatral escrito a partir de testemunhos, cartas e memórias de mulheres que estiveram presas pela PIDE durante o período do Estado Novo. Mulheres que sofreram a tortura do sono, da estátua, mas acima de tudo, a tortura de serem privadas da sua liberdade. Mulheres que eram avós, mães, filhas, esposas, namoradas, amantes, companheiras, camaradas. Mulheres que não são figuras históricas dentro de um livro empoeirado, mas que existiram mesmo e que algumas delas ainda se cruzam connosco na rua e guardam duras memórias no coração.
O espectáculo teatral com o mesmo nome estreou no Avanteatro, Festa do Avante!, em 7 de Setembro 2013
Prémio para Melhor Texto Escrito para Teatro, em 2014 (Prémio Sociedade Portuguesa de Autores).
Excerto
21 de Abril de 1965, submeteram-me à tortura do sono e avisaram-me que, enquanto não falasse, não iria à casa de banho. Tentei aguentar-me durante muito tempo. Quando já não aguentava mais, acabei por me agachar a um canto. Assim que me dispus a começar… entraram na sala, de repelão e eu levantei-me imediatamente. O Tinoco avisou-me de que se sujasse a sala teria de a limpar com a minha roupa. Foram-me despindo aos poucos e tentaram obrigar-me a limpar a porcaria com a minha roupa. Durante os três dias que ali estive, sem dormir, não fui à casa de banho, fiz tudo no chão e fui limpando a sujidade com toda a roupa que tinha, excepto a combinação. Depois queriam obrigar-me a ir lavar essas roupas sujas à casa de banho, mas eu neguei-me. Se lá não ia para fazer as necessidades, também não iria para lavar a roupa!
Nota de leitura