Câmara-Inferno / Interlúdio
Renata Portas
Dois pequenos textos teatrais que apostam no limite de situações dramáticas e na linguagem que as suporta. Nesta escrita, despojada mas ao mesmo tempo de uma grande intensidade, são reconhecíveis a actriz-encenadora que Renata Portas também é: formada no Balleteatro – Escola Profissional e na Escola Superior de Teatro e Cinema, Renata Portas encenou peças e textos de autores como Valère Novarina, Heiner Muller, Eurípides, Jean-Luc Lagarce, Pedro Eiras, Juan Mayorga, Franz Kafka, Luis Maffei, Peter Handke Jean Anouilh, entre outros; dos seus textos dramáticos destacam-se Interlúdio e Câmara-Inferno, Finisterra (edições TNSJ) e A Boca de Telémaco é a Fortuna da Casa (por editar).
Excerto
RAPARIGA:
Tinha qualquer coisa para te dizer
mas esqueci-me
Dezoito anos, olhos claros, caracóis.
Camisa xadrez.
É um dia de sol.
A mão à frente da testa, e uma mancha amarelada no papel, olhos semi-cerrados
A luz a querer queimar-te a retina.
Cor de mar.
Olhos.
Polaroides (Diz com estranheza).
A máquina foi uma prenda de casamento.
Uma tia?
Um primo que veio de fora?
Não importa.
Pausa.
Fotos.
Fotos.
Fotos.
[…]
Nota de leitura