Beladona e outros Monólogos
Pedro Eiras
Uma rapariga vai a um baile, arranjar um marido: «um fidalgo, um desembargador, um estropício que seja». Ela é feia. Ela sabe. Então, deita duas gotas de beladona nos olhos: os olhos ficam deslumbrantes, luminosos. E a rapariga fica cega. Antes de entrar no salão.
Cinco monólogos de teatro, cinco vozes, cinco personagens perdidas.
Excerto
Hoje que completei oitenta primaveras
e as minhas vítimas apodrecem enterradas
bom excremento para os lilases do meu jardim
posso dedicar-me a pintar marinhas
imensas marinhas a óleo aguarela e acrílico
com ou sem barcos com ou sem naufrágios
destroços pôr-do-sol tentáculos de algas sobre a
minha almofada do lado de cá da morte
[O pirata]
Nota de leitura
Pedro Eiras reúne em Bela Dona e outros monólogos cinco monólogos curtos onde a experimentação a partir da linguagem e das suas potencialidades é central para a construção de um universo. O primeiro diálogo, “Bela Dona”, será aquele que mais pistas fornece sobre o ambiente físico em que decorre a acção, e igualmente o que menos parece depender de uma encenação para a sua completa fruição, mas qualquer dos textos se oferece como exercício de leitura recompensador.
[Sara Figueiredo Costa, Sinais de Cena]