À luz dos olhos das borboletas
José António Gonçalves
«(…) Este conjunto poético contém 56 textos inéditos de José António Gonçalves, escritos entre 2003 e 2005, na sua maioria no âmbito de uma mailzine intitulada A Poesia dos Calendários, um projeto pessoal que o meu pai dinamizou ao longo do ano de 2004. Foi uma espécie de compêndio cultural diário, distribuído por correio eletrónico, em todos os 365 dias desse ano, que este endossou a milhares de destinatários localizados um pouco por todo o mundo, com particular incidência em Portugal, Brasil, Argentina, Itália e, imagine-se lá, Japão. Agente cultural desde jovem, apesar de autodidata assumia um indefetível espírito de missão de promoção das artes, dos livros, e de todas as causas humanas. Não perdia uma oportunidade, nas mais inusitadas ocasiões, para divulgar um literato, um autor ainda nos seus primeiros passos, um livro, de modo que a criação dessa revista digital diária surgiu naturalmente, num mecanismo para alcançar eventuais leitores interessados, providenciando-lhes o que chamava ser um sistema organizado de leitura e de aquisição de conhecimentos, com autores criteriosamente selecionados, mas de forma diversificada e abrangente. (…)»
Marco Gonçalves, da “Nota do Organizador”
Disponível para Livrarias e para Venda directa. Pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
Excerto
É UMA ILHA
É hoje uma pedra com flores e árvores.
A água escorre-lhe, pelas encostas verdes
das montanhas, em direcção à transparência
do mar. De terra, fofa, é o seu corpo, de licores
o seu perfume. Canta, na voz dos pássaros
e na solidão do povo. É atravessada por lâminas
de levadas que lhe traçaram percursos, mapas,
sonhos, no seu ventre, aproximando os abismos.
É uma ilha, atlântica, elegante como uma turista
inglesa. A sua alma vulcânica já não respira;
nos contornos da sua compleição física, longe
vão os tempos da fragilidade, da subordinação
ao medo, aos flagelos provocados pelos sismos.
É esta a jangada que, gravada sob as nuvens
de algodão, é nó de madeira, como um coração
amável, amalgamada em laurissilva e penedias;
é a minha sina voluntária e segura, o cântico
que aprendi de pequeno, para entoar toda a vida.
Trago-a comigo, silenciosamente, sem que ninguém
saiba, bem aferrolhoada ao peito, todos os dias.
Nota de leitura