4 livros 4 em Março

Até ao final deste mês de Março, mais quatro edições Companhia das Ilhas: de teatro, Símil, de António Calpi; Os pulsos fistréticos. Contos maléficos, ficções de João Habitualmente; poesia de Roberto de Mesquita: Almas cativas e poemas dispersos; o livro de viagens Açores a Pé, de Nuno Ferreira.

 

SÍMIL – António Calpi

Num ambiente de hospital que pode também ser o de um teatro e os seus bastidores, as personagens-actores dialogam violentamente sobre as suas personalidades, sobre jogos de espelhos, sobre as artes da verdade – o teatro, o cinema… – e do fingimento, numa linguagem crua, despida de preconceitos, violenta, plena de liberdade.

Uma dramaturgia que se alarga para outros territórios do fazer teatral.

 

OS PULSOS FISTRÉTICOS. CONTOS MALÉFICOS João Habitualmente

A escrita de João Habitualmente é contra-hegemónica, pela simples razão de que tem preguiça de andar actualizada nas novas tendências e milita no desconhecimento emancipatório. Os Pulsos Fistréticos não busca novas pistas para a estrutura da narrativa, afasta-se tanto como o seu autor do fetiche da inovação. Procura, isso sim, a singeleza do processo criativo, no estado de escuta que permita capturar a experiência magmática do existir. Interessam-lhe as pessoas, os seus medos e risos, a paixão com que vivem e o mistério da passagem para as vidas não corpóreas – as de cá e as de lá. É dessas reverberações que falam os contos deste livro,, tecidos em volta de gente comum, mas atentos à loucura e ao insólito que resgatam a vida do seu curso enfadonho. Sem ceder à escrita light, Os Pulsos Fistréticos  aspira a ser lido mesmo pelas domésticas que ainda não fizeram a recruta em algum dos vários feminismos circulantes.

 

ALMAS CATIVAS E POEMAS DISPERSOS – Roberto de Mesquita

Prólogo e Organização de Carlos Bessa

O título, Almas Cativas, pedira-o emprestado a Antero de Quental, num sinal claro de afinidade electiva. Em 1931 cumpria-se tardiamente o desígnio desse labor quase secreto e o livro vinha, por fim, a público. Um dos exemplares chega às mãos de Vitorino Nemésio, que encontra no «opúsculo de capa cor-de-rosa, em papel amarelento e tipo gasto, sem sedução nenhuma», que compara a «um Relatório de Contas», uma escrita que se lhe afigura «a melhor imagem da dispersão e sonolência da vida nos Açores», com o seu «perfil difuso e abúlico da açorianidade». Nemésio já lera muito e estava, portanto, apto a ver em Mesquita o primeiro poeta a exprimir «alguma coisa de essencial na condição humana tal como ela se apresenta nas ilhas dos Açores», reconhecendo-lhe ainda «um lugar importante no simbolismo português, ao lado dos seus príncipes, que não devem ficar envergonhados por não ser companhia retumbante (António Nobre, Camilo Pessanha, Eugénio de Castro)»

[Carlos Bessa]

 

AÇORES A PÉ – Nuno Ferreira

Entre Março e Dezembro de 2012, o jornalista Nuno Ferreira atravessou demorada e pormenorizadamente o arquipélago dos Açores numa jornada de busca da natureza, tradições culturais e quotidiano das ilhas. Numa viagem semelhante à que fizera no continente e que originou a publicação do livro Portugal a Pé, o repórter deixou-se embalar pelo quotidiano dos Açores, de São Miguel ao Corvo. Assistiu a peregrinações, conviveu com velhos barbeiros, baleeiros, tocadores e cantadores e contadores de histórias, fugiu do touro em touradas à corda, intrometeu-se em bailes regionais, desceu e subiu as fajãs de São Jorge, enfrentou uma derrocada num dos mais belos trilhos das Flores, presenciou a tempestade tropical Nadine na Graciosa, encheu-se de lama no norte de Santa Maria, subiu ao Pico, entre outras tantas peripécias. Em duas ocasiões, saltou para dentro de uma embarcação, acompanhando a pesca ao atum em São Miguel e a pesca ao goraz na Ilha do Corvo. O resultado é uma narrativa que procura espelhar, à medida da passada e o fôlego do jornalista, os contrastes da vivência quotidiana em cada uma das ilhas do arquipélago.