Minima Azorica. O meu mundo é deste reino

Onésimo Teotónio Almeida

Os Açores sempre presentes na escrita ensaística de Onésimo Teotónio Almeida, emergindo de modo constante e teimoso como a vegetação que brota dos interstícios de tudo na ilha. Uma recolha de textos dos últimos vinte e cinco anos na sequência de Açores, Açorianos, Açorianidade (de 1989 e reeditado em 2011) prolongando reflexões e abrindo espaço para outras.

 

Excerto

O título e subtítulo deste volume vivem há muitos anos à espera. A reunião dos principais textos açóricos escritos ao longo de vinte anos (1994-2014), conforme as circunstâncias de uma vida aos pedaços repartida, seria a maneira de salvá-los do esquecimento total, uma vez recuperados entre as capas de um livro. Mas essa era apenas uma ideia remetida para as calendas gregas do futuro, da eterna espera do tempo que há-de vir e se esvai sempre, triturado em parte a escrever mais um ensaio e outro e outro para aqui e para ali. Não fora o convite do Carlos Alberto Machado da Companhia das Ilhas a desafiar-me, e eu não teria consumido alguns de outro modo gostosos dias de férias entre a Marisol e a Fonte da Telha (nos Açores seria impossível estragar o tempo da ilha em volatilidades destas) na revisão deles.
Os autores feitos tema destes textos estão todos mortos, todavia são ainda-vivos. Fazem parte do cânone literário e do imaginário açórico. E foi essa, por facilidade, a linha demarcatória da minha recolha. De fora ficaram muitos outros textos sobre autores ainda no meio de nós, vivos e intervenientes, oxalá que por muitos anos. Tal como já fizera na peça No Seio Desse Amargo Mar, em que pus à conversa na Casa dos Açores da Atlântida figuras tutelares da história cultural açoriana, também aqui só convivo com os mortos (convém, porém, notar que várias das personagens da peça desapareceram do meio de nós depois da sua publicação).

 

Nota de leitura

Com este livro fica definitivamente arrumada, no foro conceptual, a velha discussão sobre a “literatura açoriana” como uma das manifestações da “identidade cultural açoriana”, ainda que, no plano da bibliografia material existente, possa a mesma alimentar-se de alguns equívocos que no entanto já não se devem a questões de ordem histórica, antropológica, literária ou mesmo epistemológica. Dever-se-ão, isso sim, a questões de gosto, que o autor involuntariamente ilustra com uma anedota em que Edward Shils, um famoso cientista social americano, “tendo sugerido algumas alterações estilísticas num artigo submetido por um autor a uma revista académica, as suas propostas foram recebidas com desdém, como sendo apenas uma questão de gosto. Ao que Mr. Shils respondeu imperturbável: «Sim, é só uma questão de gosto – o bom contra o mau gosto!»” (p. 195).

Mas essa já será uma outra história, que para aqui não interessa. O que interessa, sim, é que esta Minima Azorica de Onésimo Teotónio Almeida é, de facto, um rationale, na medida em que identifica, discute e organiza os elementos fundamentais para a definição e consolidação do que se entende por identidade cultural açoriana. Esperemos agora pela Magna Azorica.

 

[Luiz Fagundes Duarte, revista Colóquio-Letras, Nº 190, Setembro de 2015]

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-8592-51-4

Dimensões: 14×22

Nº páginas: 232

Ano: 2014

Nº Edição: 45

Género: Ensaio literário

PVP: 15 €

 

 

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