Às vezes quase me acontecem coisas boas quando me ponho a falar sozinho

Rui Pina Coelho

Às vezes quase me acontecem coisas boas quando me ponho a falar sozinho é um monólogo para um contador de histórias. Um homem sozinho parado no meio do deserto tenta contar uma história mas as suas histórias escapam-se-lhe. Pode ser esta a história: um homem sozinho, parado no meio de uma viagem, conta uma história. E às vezes, quando o faz, quase lhe acontecem coisas boas. Às vezes quase lhe acontecem coisas boas quando se põe a falar sozinho.

 

Excerto

Para aqui chegar, às vezes, tenho que passar rente às casas. E quando se anda rente às casas dos outros, às vezes consegue-se ouvir a televisão. O relato da bola. Uma ou outra voz. Quase sempre duas vozes. Às vezes mais. Os talheres de alguma coisa. Passo rente e sigo sem parar. Não paro, mas abrando. Vou mais devagar. Mas não páro. Quando passo rente às casas dos outros, abrando. Gosto da vida dos outros. Gosto de passar rente à vida dos outros.

 

Nota de leitura

Às vezes quase me acontecem coisas boas quando me ponho a falar sozinho é um monólogo com características formais que ecoam certas estruturas rítmicas do romanceiro tradicional, com repetições de uma frase, ou de uma variação, e onde um homem faz desfilar a sua história num discurso fragmentário e desordenado que acaba por elevar essa história a uma espécie de radiografia – desfocada e sem nunca querer ser sistemática – daquilo que chamaríamos contemporaneidade, à falta de um termo menos disperso.
[Sara Figueiredo Costa, Sinais de Cena]

 

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-8592-28-6

Dimensões: 11×15

Nº páginas: 40

Ano: 2013

Nº Edição: 20

Género: Teatro

PVP: 10 €

 

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