A porta fechou-se e a casa era pequena

Ricardo Neves-Neves

Dois imóveis procuram casa.
Aliás, um imóvel procura casa. O outro só está para abrir a porta.
O comprador e o senhor da agência lançam-se do alto de uma cascata e partem em busca de uma casa ou de uma gruta ou de uma melancia fresquinha onde o imóvel possa habitar.
Em registo anti-épico assim percorrem a pólis com os olhos virados a 360º.

 

Excerto

Como não tem campainha?
Uma porta sem campainha é uma porta nua.
Não há um sonzinho,
uma musiquinha,
absolutamente nada?
É que bater à porta já não se usa.
Nos tempos que correm,
e sinto-me no dever de dar o exemplo,
pelo menos à geração mais nova,
nos tempos que correm
porta minha não é batida.
Porta minha não aceita pancada.
Assim como hei-de saber
se tenho alguém do outro lado a querer entrar
ou simplesmente a querer a porta aberta?

 

Nota de leitura

A porta fechou-se e a casa era pequena, de Ricardo Neves-Neves, merecia ser lida a par com O problema da habitação, de Ruy Belo, num diálogo que assume o espaço doméstico como centro organizador de cada vida e que parte desse espaço para reconhecer o mundo, questionando-o. Pode reconhecer-se neste texto o manancial de pequenos de pequenos dramas contemporâneos relativamente à habitação, do crédito ao preço por metro quadrado, mas é na relação casa com o mundo que se encontram as linhas de leitura mais profícuas.
[Sara Figueiredo Costa, revista Sinais de Cena]

 

Ficha Técnica

ISBN: 978-989-8592-33-0

Dimensões: 11×15

Nº páginas: 56

Ano: 2013

Nº Edição: 24

Género: Teatro

PVP: 10 €

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